Aos 70 anos a vida tem outro sabor, especialmente depois de um coma induzido durante dois meses. Fernando Leite coloca a mão na construção de um mundo melhor, todos os dias, através dos projetos em que está envolvido. 

É CEO da Lipor, Associação para a Gestão Sustentável de Resíduos do Grande Porto, que integra desde 1980, e administrador não executivo de várias entidades, membro, vice-presidente e presidente de organizações ligadas à economia circular, solidariedade e sustentabilidade. Faz ainda parte da Ordem dos Economistas e da Associação Comercial do Porto. É economista – de causas, como defende –, curso académico que abraçou quando a sua preferência era Direito. 

Mas é também, ou principalmente, um homem de pessoas. 

“Os números são os números. E temos números que temos de atingir. Contas que são contas. Responsabilidades que são responsabilidades. E um economista, um gestor, um empresário, tem de ter aquilo que é o cumprimento exato das suas obrigações e que o deve orientar na sua atividade. Mas estamos a aprender que as pessoas fazem toda a diferença”, conta o responsável pela Lipor.

“Nós podemos ter os processos muito bem montados, o marketing mais aperfeiçoado. Mas temos de pensar que por trás do marketing estão pessoas. Por trás das operações estão pessoas. Eu diria que, o que devemos mais trabalhar é as capacidades, as competências e uma outra dimensão - para a qual nós não olhávamos - que é a felicidade das pessoas”. 

Desafiado a entrar na autarquia da Maia, ainda muito jovem, segue pouco depois para o serviço militar, onde no centro financeiro do exército adquire uma aprendizagem muito importante para si. 

Terminado esse período, segue para um duplo projeto: integrar as negociações da aquisição da Lipor – “uma tarefa muito exaustiva para um jovem” – e, ao mesmo tempo, estruturar dentro do Município uma área fundamental, ambiente e sustentabilidade. 

Atualmente, “a Lipor está ao nível de empresas que fazem este trabalho no centro de Paris, ou em Londres, ou quaisquer outras grandes cidades europeias os nossos indicadores, a qualidade do nosso desempenho, das infraestruturas, o conhecimento das nossas pessoas, fazem de nós uma organização que “pede messas” a muitas do estrangeiro”, defende. 

Fernando Leite cresceu entre a cidade e o campo, ecossistemas que lhe proporcionaram uma infância feliz, de muita tranquilidade, e que o moldaram. Reconhece que os pais - família humilde, gente de trabalho -, tudo fizeram para os dois filhos se licenciarem, e os tios - emigrantes da Venezuela, sem filhos, que transferiram o amor paternal para os sobrinhos e a determinação em que fossem os melhores - o temperaram para o futuro. 

“O que é fundamentalmente importante para nós no mundo de hoje, está relativamente afastado daquilo que são os valores. Provavelmente, dedicamos muito mais tempo a pensar naquilo que são as questões mais materiais e não estamos a verificar aquelas que têm a ver com algo que é, não diria imaterial, a maneira de ser, de reagir, de olhar para a outra pessoa, como me comporto na sociedade, como me comporto na minha função de chefia. Tudo isso são situações em que nos atrasámos e precisamos de uma nova pedagogia”. 

O sentido de futuro, de desenvolvimento e a procura da perfeição, diz ter aprendido com José Vieira de Carvalho, Presidente da Câmara Municipal da Maia. “Deu-me a visão do que um gestor deve ter ao liderar as equipas: confiança, liberdade para poder falhar e muita humanidade no que estamos a fazer. Dizia que não há inatingíveis, podemos não chegar mesmo ao sítio, mas vamos ficar lá muito perto”.

“Nos últimos anos tivemos de acrescentar, à dimensão da gestão, componentes que até aí não eram avaliadas. Estávamos muito escravos do lucro ou do prejuízo. Vieram agora outras componentes muito importantes e que ouvimos falar debaixo de um chapéu que é a sustentabilidade. Aquilo que é a defesa do planeta, que é mais do que necessária, e essencialmente, volto aí, a felicidade das pessoas”.

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